quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SAMPA EM MIM


 Pra  você  

Quero escrever um texto torto
sem início, nem fim
que comece num ponto
e termine de repente
.assiM

Que seja um poema
do avesso de mim
um beijo ao contrário
um não pelo sim.

Cabeça aos pés
pisada mental
um corpo ao revés
doçura no sal.

...um olhar de ternura
em poema fatal.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Nostalgésico



...comprimidos que ainda doem engolir.










Te encontrei num rabisco velho de mim
encolhido numa folha de um caderno
enrugada página do tempo

estiquei as palavras com as mãos
mas elas já não eram
ficaram no passado agarradas
as lembranças de nossos segredos

um ontem cheio de tanto hoje
passeia dentro de minha rua
cartão postal de uma fúria amorosa
que me fez ventar pra sempre.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Amor- imperfeito

  




    Meu jeito de amar sempre será sozinho, porque amo sem limites e com toda profundidade que um mergulho possa permitir. Não há medição, nem mediação para o amor que trago e nem sei... se   sei dividi-lo. Ele é assim: inteiro, sem freio, sem precaução, nele não há fronteiras ou divisores. É um bloco concretamente suave. Só precisa do toque da verdade, para se manifestar. O amor que me carrega, compartilho na liberdade de amar, como eu quiser, é assim. 
   Minha vida tem  sentido, mas meu coração - ferramenta de amar - planta, colhe, semeia, areando sob o sol e tem tantas direções, que não encontra o caminho de amar'um, embora seja único. 
    Plural é esse meu amor de sozinhez. Ah, meu amor, como é só e tantos!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

URÔMELO




monstro que abriga o sol
segue protegendo o amor
sob as solas dos pés...

sombras agônicas de não-ser
têm o lar nas cavernas que o habitam:
entranhas estranhas...

projeção no escuro do speculum
maqueia-se em fotos embaçadas
de tantos Eus, em infinitudes rasas...

tanto para esconder uma flor
- lótus emoldurada em tanto -
criatura da vitimada vontade de viver...



Ave, Ferônia!


...o desenho da liberdade
não cabe dentro do meu dentro
livre saio pelo mundo
protegida pela deusa da vontade
sem limite
de ultrapassar passar assar asa ar

na força do vento embalo
o dom de voar
toco nuvens e digo impropérios lúcidos
pra enlouquecer de tanto azul

Dobram sinos em minhas catedrais
profanas e livres
e florescem dissonâncias
de um silêncio sem sentido
orientado pela tarde molhada de primavera.

Eis: olhos cegos que tateiam a boca
do beijo da noite que roça o ponto
final da imperdoável reticência...

Feronices hajam
e ajam em mim.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Estrada do vento

Cabeça em nuvens
opacas
penduradas no azul

...o verde me chama
a terra molhada
grita meu nome
perfumando ...
os olhos do dia.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sinos de silêncio





...o vento arrastou sinos silenciosos
sobre tuas catedrais poéticas.

O céu colorido da tarde
alaranjado de maduro
engole o azul que foi
e sempre será...

Sobre o amor?
O vento soprou
e os sinos
não tocaram...
Nenhum alerta
para o vento quente
ou frio, soprado
em teu ouvido.

Fez-se um Furacão,
derrubou tudo...
e você nem saiu do lugar.

...sempre
preferiu a brisa,
o vermelho
sapatos para Alice
na sala de espelhos.

No meu jardim
- assaltado pela desconstrução -
o vento ainda espalha
o aroma daqueles dias
de semear poesias.

...no meu quintal
as flores são sinos azuis
regadas pelo amor
das nuvens que passam
sobre seu nimbo
desenhando o tempo
de calar os versos

Não sou escritora,
não planto rosas,
nem mereço poemas,
não colho vaidades...
Sou jardineira de sinos.

...a literatura é meu engano
predileto...
Sou a musa sufocada.
Respiro o perfume
dos sinos azuis...
encarcerada entre versos,
nesse jardim de oferendas
às suas Nereidas e Náiades.

Meu amor se espalha...
sobre cabeças,
embaixo das portas,
empurrando folhas,
tocando nuvens
e as sombras dos sinos:
ecos emudecidos.















sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Ceia literária


Come, come e reparte.
Clarice  Lispector





A palavra é o pão dos estranhos.
Comemos palavras.
E nos comemos através delas.
Elas têm o sabor do milagre.
O recheio que quisermos.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

FOCO







Estreito ângulo
a boca ruge
escorre veneno dos olhos

o silêncio se espreme
no que não foi dito
no que não foi escrito
no gesto que não houve
no desejo reprimido
na calada da noite

amanhecida e mastigada insônia
o horizonte em beco no teu olhar
a perdição feita de virtuosidade
fajutos passos
para o nada de sempre
as palavras ainda prisioneiras

Fiquei descalça no teatro



Diante da tela irretocável
reveladoras  raízes do Blues
A sombra de meus pés
escapados de mim
tocando a história do som

Sangue azul-negro
correnteza de antepassados
em minhas veias
- suor musical -
numa semeadura escrava:
a flor sonora da cor do céu








quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Não acredito em despedidas



I

Mordo o sol
somo o sumo
sorrio luas
embaçadas em poças
de uma chuva madura
encharco de vida

II

Sopro  antíteses
brisas grossas
furacões suaves
desenho do silêncio
num deserto baldio
danço em senzalas
desacorrentadas de tudo

III

Despeço-me da chegada
em partidas fragmentadas
numa modesta inteirice
desconstruída no primeiro ato
num ir eterno

IV

Perfumo versos livres
com hálito primaveril de Baudelaire
mastigo girassóis de Van Gogh
abraço paisagens inventadas
num encontro mítico
entre lavras de palavras
 acenos invisíveis entre cegos





segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Na dança do tempo

Nasceu um sorriso
em minha alma colorida
pela tua presença
tão nova e velha e renovada

trocamos brilhos entre olhares
floridos de tantas vivências

ali naquele canto
extasiados  com a música
dos mímicos
mãos tímidas
perdidas a se procurarem

nunca saímos
sempre estivemos
juntos

e do lado
de fora da casinha
nós jamais desatados

Olhos de mim

Para Eloá:

Teu rosto em minha retina
quadro de textura em flor
espelha a minha menina
seja no tempo que for...


domingo, 4 de novembro de 2012

Marcas do invisível





Nunca saberá
o que fiz depois
daquela partida

...segui inteira
sambando incoerências
enquanto descia a ladeira

e das estrelas
brilhando tão grudadas
no céu da boca

e no beco da vontade
de nunca mais
te ver pra sempre

ouvi blue Jazz xaxado
samba-rock
fui tão pop
depois que fui
nunca mais
pra sempre

Clássico desejo tropeçou
na barra de sêda
e caiu sobre a chita
recheada de periferia

rasguei a cortina
na cena infinita
do acabou

tua contínua busca
encontrou-me Julieta
atirada sobre
as marcas do veneno
doce dos teus olhos



sábado, 3 de novembro de 2012

Jogatina

O poeta é um jogador
joga tão completamente
que aposta até no amor
debocha da dor e não sente

Descarta o que não interessa
na manga guarda seu bem
só joga as cartas na mesa
se pode ganhar também

Palavras, cartas, amores
viciado em descartar
aproveita naipes e cores
para bater sem blefar

Copas, paus, ouro, espada
todas em sua mão
é jogador da pesada
que tem leve o coração

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Bate ou apanha?

Seu talento de mentir
fez crer, meu coração
vadio, que não existe.

Posso sequer sentir
este bater tão leve,
em mim pesado e triste. 

Desculpe a sinceridade,
- pelo amor negado -
falseando a  verdade. 

Só que a própria vida,
nesse vento que apanha,
confere a sua batida:

apostada em rondas,
nos versos derramados,
pela espuma das ondas.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

AMOATÁ










na casa da  tua ausência
perambula o amor vadio
a friagem:cômodo vazio

rasgam-se  as  cortinas 
lambe a poeira espessa 
nó de criança travessa

desmanche de amor
bateu a porta e o verso na cara
aos porcos jogo de pérola rara
apagou-se  luz e cor

numa ilha de pescar promessa
no sal daquela  baía
o mar solveu a magia
demorou pra acabar depressa