sexta-feira, 26 de abril de 2013

Espalho vôos espelhados em olhos livres...


Quando tudo parece me faltar
a liberdade me dá colo
e o vento vai me lambendo as asas
soltando-me de mim e de tudo
que cá na terra de todo dia
acorrenta-me
a cotidianas mediocridades

Confesso que voar é livre demais
pra prender seu sentido em palavras
a brisa gelada do outono
me arrepia os sonhos
e levam as cores retocadas
fazendo brotar canteiros noturnos
encantados pelos tons do amanhecer

Enrolada em meus cabelos
penteio-os ao vento
enxugando versos de orvalho
ao abraçar do sol,
até  a doce inconstância da lua
atravessar a minha ventania
poeticamente incorreta
cheia de uma vontade secreta
de render-me a constelação
do  meu céu particular

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Mas, Cara...?!



Cara pálida,
cara pintada,

descarados,
cara-metade

cara disso,
cara daquilo,

quem nem tem cara,
pra assumir
na cara de pau,
o cara a cara.

Cara,
com que cara,
eu vou,
pra festa do índio
que o cara ignorou?



quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sentido da pele


Patricia Amorim


Tua pele minha
apelou atropelou
desencaminhada
descaramelada
descamou

Minha pele tua
dorme sozinha
de toda pele
sobrou nadinha
fragrância de tez flagrada

no cheiro do sono
de pele roçada
podia entre nós um carbono
pra ficar nossa pele
pelo abandono desenhada

deixar nosso poema impresso
marcado de inconstância
todinho verso por verso
da poesia espalhada
manchada pelos lençóis

Tinha palavra e pedra
no meio do caminho controverso
apelo da travessia: Nonada.
...Ficou Pele sobre pele
na lavra de lavas em nós.

sábado, 13 de abril de 2013

"Vai...vai...viver..."



Pega essa mala
de hipocrisia
e  tua vontade
 de ser estranho
e vai baixar
 noutra freguesia

(Finge que toma banho
mas joga água fora da bacia)

sai desse templo tacanho
não engana mais Maria
aproveita o teu tamanho
puxa a lua e acaba o dia

vê se faz algum ganho
e perde essa falsa alegria
se desse jeito te arranho?!
perdão! é só poesia...







sábado, 6 de abril de 2013

"...espinho machuca a flor..."




Odeio rosas
que saem da boca sem hálito
de faquis do amor
mastigadores da solidão

Prefiro miosótis miúdos
em sua profundidade
para serem descobertos

rosas são os espinhos unhados
da insensibilidade
de quem oferece flores
por ocasião

Meu pai era jardineiro
aprendi com ele
a admirar  azaléias

Ele nunca trouxe rosas
pra casa: elas se tornam
responsáveis
pelos que machucam

Tem gente que cobre
uma rua de rosas
para calçar espinhos

Minha mãe amava dálias
e ficava com pena
quando a chuva as despetalavam

As flores das nossas lembranças
sem espinhos
não morrem
enfeitam nossa calma

Minha filha plantaria tulipas
em todas as paisagens
para semear e colher alegrias
toda manhã

As rosas são tristes:
metáforas de almas belas
carregadoras de espinhos









quarta-feira, 3 de abril de 2013

Réquiem para as flores de plástico






Ao vê-lo desgarrado
numa caótica poesia
fingindo morrer
apagando a trajetória da rua
atravessada em sua garganta
o vejo seguir...
como uma rima enlouquecida
em busca de um verso livre

Um editor fúnebre
numerando sepulturas
desejando flores murchas
podando pássaros

envenenando-se com o perfume
da vida e de tantas flores
colecionando mortes

oscilando entre o portão
e a partida, mutilando o passado
em inaugurações efêmeras
de um presente embrulhado
por  memórias de Pasárgadas
avessas ao cotidiano encoberto
por cortinas rendadas
embaçando o olhar das janelas.