terça-feira, 30 de julho de 2013

HORA REMOTA



   


Imagem: Claudia Lemos






uma sombra  perdida
 numa caverna
 um súbito grito preso na garganta
a luz contida nos olhos nunca abertos

Tentou alcançar uma lanterna
o canto entoou uma nota tanta
  a manhã buscou olhos despertos

a pele da alma ressentiu a caridade
as noites longas sem nenhuma estrela
e a falta de um carinho de verdade
imperdoáveis razões para não tê-la

confesso o silêncio dilatava
a covardia de levá-la a sofrer
enquanto o corpo pleno suava
a maldita arte do desfazer

mentira tamanha esboçou
no desenho intravenoso
o tinteiro uma lágrima chorou
na tela um poema pedregoso

o barco desafiando o mar
em torno de uma ilha de promessas
e todo  talento de enganar
nas águas velhas imersas

tranquila foi a volta
para quem tinha a espera
pra quem ficou na revolta
a indomável megera












sábado, 27 de julho de 2013

Na retina da pele


Evitei  olhar nos olhos do céu, 
para não desejar o impossível.




Já visitei o inferno
quando te achei no paraíso
encontrei minha criança
quando perdi o juízo

Esbarrei o eterno
diante do teu sorriso
gastei toda a esperança
por um prazer indeciso

coloquei chapéu e terno
só pra te dar um aviso
perdi toda confiança
quando acreditar foi preciso

Fiz verão em pleno inverno
um necessário improviso
desfiz sua  temperança
fiz chover sobre o piso

Só não soube ser externo
o teu essencial valorizo
meu coração desgoverno
nesse olhar que poetizo

Na tua pele retina, ainda, deslizo
pois não te olhar no inferno
fez-me no interno ver o paraíso


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Mãos frias, coração quente


Sob o frio o tempo arde
ondas geladas em curvas
tomam de forma covarde
ruas sem meias, nem luvas

Asas cinzas, silenciam
o azul atrás da neblina
num abraço anunciam

a caminho a chuva fina
os olhos todos se alinham
em direção ao céu e a colina

Na paisagem dessa história
o fósforo acende a menina
e em versão contraditória
o frio aquece e ilumina

Aproximação acalorada
reúne a necessidade
e a rua  é incendiada
pela solidariedade

Sopa quente, cobertor
vão aos poucos aparecendo
tudo doado com amor
que o frio vai aquecendo




domingo, 21 de julho de 2013

A FLOR DO VENTO





Florada do ciúme
espalhou-se na paisagem
pela disputa de um amor

tornou-se da dor o lume
e da paixão pela aragem
o sentido que o vento for

do sangue de Adônis brotou
pela espada de Marte ferido
 na delicadeza e na cor
eis em pétalas convertido

Por Vênus a vida deixou
para surgir renascido
e através dessa flor
nunca ser esquecido

no vento dessa florada
expandindo o sentimento
sou anêmona ventada
pétalas da flor do vento





quinta-feira, 18 de julho de 2013

Língua regada a vinho

Morda essa língua da poesia...
e beba esse verbo que embriaga.
  







Nunca entendeu a poesia
que ela trouxe de oferenda
jamais entendeu a língua
por renegar seus versos

Não houve, nem haverá
reedição de um texto
apagado numa fogueira
queimado nas águas
noturnas das luzes literárias

Ele foi o engano provocado
por tantas palavras ocas
recheadas de intenções
editadas entre goles de silêncios

O poema foi regado e arrancado
pelo  delicado desprezo
das sobras e sombras dele
raspadas do prato da despedida
num banquete de mendigos

pra depois mostrar a festa
e o brinde da felicidade
no lançamento de um romance
que escondia na gaveta do egoísmo
que a chamava de cega
por ela não ver
o que ele não teve coragem de mostrar

essa covardia é uma dívida poética
que habita as entrelinhas de tudo
o que ele venha ler, escrever ou apagar

A leitura dos olhos
chorando poesia
encharcaram as páginas
naufragadas pelo jogo insensato
concluído num beijo e sorriso
que não eram dela

a  língua da língua
ainda sente o vinho
e a travessia regada de estrelas                      
a faz girar moinhos
no brinquedo de cobra-cega
de um vento que o levou





quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ventana




Vou por ai, me misturando ao vento...
Quem sabe, um dia desses, eu não aprenda  voar?!








Esse vento vem de longe
do profundo chão do ar
do silêncio do monge
do barulho do pensar

levanta a poeira alegria
floresce tristes moinhos
assobia e zune poesia

revela a palavra contida
arrepia  pelos e apelos
faz nascer o som da vida

ecoa a vaia e o canto
empurra as ondas do mar
rasga e remenda as nuvens
fazendo o céu marejar

Esse vento chega perto
na superfície a soprar
invade o templo deserto
desenha o seu caminhar








terça-feira, 16 de julho de 2013

NOSSO NOME É AMOR



Para meu exemplo: ELOÁ





Tua sombra ilumina meus caminhos
és foco de luz sempre
abres os olhos, surpresa
como da primeira vez
procurando a cor da vida
interrogando: Por que é assim?

O sentido de tudo está em ti.
Ouça a música do teu coração
e dança nas estradas desenhadas
ao acaso e encontrarás na paisagem
a certeza dos dias ao nascer e pôr do sol

Acompanha o ritmo que é somente teu
na pavimentação da corda bamba
ou na ponte que balança
a vida só nos garante sacudidelas
depende de nós mantermos a firmeza

A felicidade está na direção dos nossos passos
mesmo quando parecemos Curupiras:
no folclore do engano também tecemos horizontes








segunda-feira, 15 de julho de 2013

Des_Equilibrados@sonhadores.com




Para os que possuem Passos Alados


           Rapsódia de Marcel Gama


Todos somos avessos 
já nascemos invertidos
E mesmo quando choramos
nos tornamos divertidos
e no fundo do sorriso
somos entristecidos
Côncavos e convexos
espelhos de nossos sentidos
Cegos não nos vemos
surdos não nos ouvimos
mudos é que falamos


  

domingo, 14 de julho de 2013

Conta gotas do tempo





Os ponteiros dos dias
o calendário das horas
o mais cada vez menos
a idade sem madureza

a falta de coragem de crescer
o desejo grande numa estrada pequena

O calendário dos dias
os ponteiros das horas
o menos cada vez mais
a madureza sem idade

a presença do medo de diminuir
a apatia pequena num acostamento

Os ponteiros e calendários
a madureza das horas
sem mais nem menos
a idade do tempo

a distância e a incerteza celebrando o início do fim
o caminho apertado como um abraço de despedida
 
Essa água toda parada
as palavras engolidas em versos
tanta pedra cercando o feudo
que te liberta apenas os olhos para o céu

Se é possível ser feliz assim
que seja hoje e sempre
nessa estrofe desritmada da vida
para existir: sigamos.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

VESTA



tarde ao meio
invade os poros da casa
a respiração da poesia

rasgam-se as cortinas
tremem as paredes
circulam venosos versos
e apanham artérias
espalhadas pelo chão

desatrofiadas estrofes
vagam pelas mãos
que empurraram a porta
sem pedir licença poética

Entra toda à vontade
com tanta metáfora
sem nenhum perdão
rasga-se o silêncio

vento feito de palavras
sublinhando telhados
num poema vestido de azul


sexta-feira, 5 de julho de 2013

...água do céu...



Ainda sinto na pele
a tua presença molhada
embora entre nós
haja uma sentença

escrita em lençóis d'água
rabiscando seus afluentes

matamos nossa sede
entre  copos e corpos líquidos
de desejos transparentes