sábado, 22 de novembro de 2014

Eu, Cândido e o otimismo

(Fausto que me perdoe,
mas Cândido é fundamental.
Entre Goethe e Voltaire: o equívoco.
Dois complementares ou opostos?
É ser humano demais...
perspectivas avessas,
tecidas pela incoerência.)

Sou filha de jardineiro,
cuidador de uma família.
Herdei de Cândido o otimismo:
"é preciso cultivar nosso jardim."
Ainda que a vida seja fáustica:
"Quanto o rumor de enxadas me deleita!"

De um jardim não se apaga o vestígio.
Ele está no meio de nós!
Cultivemos e aguardemos
o florescer da existência.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Trópico de Capricórnio


      Mário Cesaryni - linha dágua


Atravessado o mapa
no olhar adivinhoso
riscou o líquido chão
dançando sem capa
em tom curioso
pendurou o coração                                                                                

entre estrelas azuladas
encheu a mão e soprou
um canto de alegria
espalhou pelas calçadas
fez da noite magia
partido alto entoou

Cruzou a paisagem
num astrolábio digno                                                                                                                      
desenhou o beijo
dono de coragem
mostrou-se signo
trópico do desejo



sábado, 15 de novembro de 2014

ABOLIÇÃO




Há liberdade na solidão
coragem sagrada
feita de silêncio
contração de sumos
feito canetas tinteiros
carregadas de lembranças
sem escrever sequer palavra

Só tem um ar chuvoso
umidece estamparias invisíveis
curva joelhos em tecidos celestiais
beija o chão com a cabeça
é uma Yoga Poética

A pele do silêncio
essa casa da mudez
protege e usurpa o grito
de olhos vermelhos

A peleja me escurraça
e revigora a tez
O silêncio é meu próprio sangue.
O suor reclama cansaço
e nega a verdade

Perco o hábito de falar
Investigo a semente do silêncio
no ponto finalizador
encerrador de idéias
atos e palavras.

O olhar fala
faz careta
brilha
não há silêncio nos olhos
mesmo fechados
habita o dito e o interdito

Na fenda do calaboca
há chamas apagadas
incendiando sossegos
ebulição do todo
abolição do nada

O silêncio é uma ousadia
atletismo da inércia
palavra controversa
submersão da poesia
onde tudo



sábado, 8 de novembro de 2014

...DE VEZ!



Nesgas lilás
mesclas de tudo
tonturas poéticas

entre linhas o desdito
sobre os versos o corpo letrado:
interface dos sentidos

o gosto das palavras salivam
insossas cores dos sabores primários
na leitura deliciam tons pastéis

Veste imutável das pontuações
passeia em campos floridos;
a pele não, só sente e se perfuma
esfrega-se in  natura

as nuvens desenham
a tradução das estrofes
sem rima, nem ritmo,
comunhão de haveres

E o vento dilata
a liberdade adverbial

Um gato no sofá
livros sobre a mesa
idéias espalhadas pelo teto
janela fechada: poesia adiada
pra dentro do eu lírico